domingo, 19 de junho de 2011

Apenas palavras?!

Colagens com dicionários

"Viemos ao mundo para dar nomes às coisas:
dessa forma nos tornamos senhores delas
ou servos de quem as batizar antes de nós"
(Lia Luft)

A comunicação é algo muito precioso e pode ser feita de variadas formas, estas definem-se por linguagem, são sons, imagens, palavras e/ou a mistura destas. Como na citação de Lia Luft, nós damos nomes as coisas. Nomes e também significados. A coisas, lugares, pessoas...

Minha fascinação por palavras começou na adolescência, adorava folear dicionários, "O Pai dos Burros" como a gente chamava lá em casa, conhecer novas palavras, sinônimos, significados... Caçava palavras e brincava escrevendo bilhetes aos amigos com palavras pouco conhecidas. Sem me sentir estava ampliando meu vocabulário, exercitando meu cérebro. Naquele tempo já tinha computador e internet, é claro. Mas ainda bem que demorei um monte de anos a ter um em casa.

No Brasil, por sua extensão existe praticamente um dialeto para cada região, todos já devem ter visto ou escutado falar em Cearês, Mineirês, etc... Então, lá em casa também temos um dialeto (acho que toda  família legal deve ter um também). Lá em casa falamos... Nosso dialeto ainda não tem nome (mas vou pensar num). Faz parte desta prática doméstica  re-batizar "coisas", dar nomes, codinomes que facilitem a nossa comunicação afeto-domiciliar, tipo "A goiabão", é uma rede cor de goiaba; "sabisguai" é sanduíche de queijo; "o quente" é axila (vulgo sovaco). E por aí vai... Ah, quando você ouvir lá em casa alguem gritar "Isso é uma CEBOLA!!!!!" Saia de perto, essa cebola aí foi um palavrão.

O processo de formação de um dialeto domiciliar é muito natural, quase imperceptível, exceto pela primeira vez em que o termo é utilizado, pois no primeiro uso os autores da "obra" se entreolham, riem... e pronto. O sanduíche de queijo já foi re-batizado de "sabisguai" e será para todo sempre um "sabisguai".

Ontem li uma frase do meu querido Rubem Alves que diz, "As palavras só têm sentido se nos ajudam a ver o mundo melhor. Aprendemos palavras para melhorar os olhos." Os dialetos familiares são uma prova viva desta afirmação do Rubem. Esses códigos domésticos nos fazem viver e sentir por meio das palavras o "amor/ódio" único entre os que convivem sob um mesmo teto. Os sociólogos afirmam que onde somos nós mesmos de maneira mais verdadeira é em nossos lares... As palavras têm força, pensemos bem nas palavras que usamos no mundo, dentro e fora dos nossos lares.


4 comentários:

  1. Adorei o texto! O dialeto familiar que você descreveu me pareceu o retrato de um lar aconchegante e cheio de amor. Beijos e boa semana!

    www.roadtripdaina.com

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  2. Isso mesmo, Nina. Um lar de muito aconchego, amor e cumplicidade...

    Fico feliz que tenha gostado!

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  3. E POR FALAR EM PALAVRAS CRIADAS, LAR E FAMÍLIA, LEMBRO QUE MINHA MÃE ESTÁ SEMPRE REMEMORANDO AS PALAVRAS QUE OS SOBRINHOS DELA E EU, SUA FILHA, INVENTÁVAMOS AO COMEÇAR A FALAR. É IMPRESCIONANTE COMO TEMOS ESSA CAPACIDADE DE "BATIZAR" COISAS COM UM APANHADO DE SÍLABAS QUE SAEM DE NOSSAS CABEÇAS E QUE PRA EDUCAÇÃO/SOCIALIZAÇÃO CONVENCIONAL QUE RECEBEMOS, ACABAM NÃO FAZENDO MUITO SENTIDO DIRETO. AÍ ME QUESTIONO E LANÇO TAMBÉM PARA OS LEITORES: SERÁ QUE À PROPORÇÃO QUE SOMOS "EDUCADOS" PERDEMOS A CAPACIDADES DE SER CRIATIVOS COMO NOS PRIMÓRDIOS DE NOSSA EXISTÊNCIA?

    EU ACHO QUE SIM, ALÉM DO QUE FICAMOS MUITO ACOMODADOS ÀS INFORMAÇÕES QUE NOS CHEGAM E PERCEBO QUE COM O TEMPO, DEPENDENDO DA FUNÇÃO QUE EXERÇAMOS NA VIDA, ACABAMOS PASSANDO POR UMA CASTRAÇÃO.

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  4. Isso mesmo Jana, somos meio que forçados a nos encaixarmos em algum modo já aceito pela sociedade. E a nós mulheres, então...

    Beijão!

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